domingo, 25 de novembro de 2012

dezesseis de dezembro de mil novecentos e setenta e cinco



foram vinte e um anos de coração disparado. eu tinha catorze quando começou.

escadas do colégio, corredores atrasados, a esquina entres as duas salas do colegial (eu vivia lá esperando por ele, por que o professor não solta logo a classe?), o parque, o parque na sexta, no sábado, no domingo, a discoteca na noite antes da segunda-feira, com aquelas músicas horríveis que a gente dançava e fingia que gostava só por não ter lugar melhor pra ir. e, no dia seguinte e no seguinte ao seguinte, as escadas, os corredores, as esquinas...e mais tarde, bem mais tarde, quase ontem ainda, as ruas da cidade, qualquer rua, qualquer lugar, em quando que fosse, qualquer tempo, depois de qualquer um, importante que fosse esse um ou o outro, era sempre tempo de sentir o coração trepando na garganta, querendo sair pela boca, eu vi daniel. 

quem não o conheceu em pessoa, o conheceu pela minha boca. a quem não falei de daniel toy? a todos falei de daniel, até ao gato falei de daniel. o papel, maior ouvinte dos anos, cobriu-se dele, crivou-se, constelou-se de daniel, daniel toy toy toy.

na madrugada do dia 22 de novembro daniel foi embora. desavisada e estupidamente ele se foi. daniel não vai mais voltar. deitou-se para dormir, acordou com náuseas, vomitou, aspirou seu final, disse à mãe que ia morrer. e morreu. deixou uma buraco na vida dos outros.

quando fui vê-lo pelo última vez, pensar o nunca mais, aquela tarde repulsivamente quente, o gosto salgado na boca, irascivelmente desejei sacudi-lo com força, dizer-lhe 'ei, acorda, ainda não acabou, não', dar-lhe uma pancada no peito, socar seu coração para que ele voltasse, quem sabe uma faísca, uma pequena fagulha e tudo volta, recomeça?, mas ele parecia tão em paz, quase sorrindo naquela camisa branca, terçinho nas mãos, danny boy; os olhos meio puxados (daniel tinha olhos de inca, eu dizia), serenos, pareciam apenas dormir seu descanso já marcado. e tão bonito, sempre tão bonito, o mais de todos. talvez fosse mesmo a hora de daniel dormir. 

o que eu sei é que foram vinte e um anos de coração disparado. e que há três dias, o dele parou de bater. um buraco na vida da gente, danny boy.




Um comentário:

Angela disse...

Querida Ana, como é difícil digerir a ausência, não é?
Estou com seu coraçãozinho que ainda salta e bate pela impotência de não poder bater pelo dele!

Um beijo carinhoso.

 
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