segunda-feira, 19 de novembro de 2012


o gato vai morrer. e eu sei disso. eu sei como sei resolver uma complicada equação matemática digna de quem gabarita numa prova de vestibular concorrido. mas não sei disso com o meu coração. estamos em 19 de novembro de 2012 e, em certos dias, nada ainda aconteceu. eu tenho quatro anos e estou sentada com a minha avó na sala de sua casa pedindo pra que ela procure piolhos em minha cabeça só pra ganhar cafuné ou, então, vinte e cinco anos depois disso, ouvindo-a dizer que eu era sua neta mais bonita e inteligente, frisando depois: 'a única que ficou aqui' (por isso a mais inteligente; a beleza ficava por conta dela). nem no tempo de um piscar de olhos (os olhos não piscam mais) vou de um ao outro extremo do mapa, volto, avanço, num passo dez anos se vão, mais um e eu nem sei. prefiro, então, permanecer sem paixão. apenas mais uma estátua de mármore corroída pela acidez das chuvas intemporais.
ela morreu. o gato vai morrer. e eu não sei disso com o meu coração.


2 comentários:

Angela disse...

Querida Ana, a morte também é uma das boas coisas da vida. Um dia você vai saber disto. Não é bom que jovens e gatinhos pensem nela. Mas a avó deve ter ficado amiga dela com a idade.
E veja só, como sempre, você consegue embelezar tudo. Este texto é lindo, tão belo quanto você e a avó sabia disto, como coração dela, assim como sei com o meu.
Um abraço quentinho em seu mármore.

Angela disse...

Ana querida, ontem foi postado no correio o filme "Um homem e uma mulher" que te prometi.

 
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