terça-feira, 25 de novembro de 2008

de olhos bem fechados


o primeiro dia:

meia hora sem enxergar. achei que seria insuportável e que teria a sensação de que o tempo demoraria exageradamente muito a passar; mas quando o despertador tocou, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: 'já?'.
senti um pouco de tontura e de enjôo também. e tive a impressão de que minha mãe fala incrivelmente mais e mais alto, e o sininho da casa do meu tio me deixou nervosa. consegui desligar a tv usando o tato e me lembrando da ordem das teclas e a língua inglesa me pareceu mais clara do que de costume.

mas

esse primeiro dia, me fez pensar na limitação das atividades. por exemplo: eu queria fumar, mas não tive como acender o cigarro, afinal, não dá pra tatear o fogo, né?

então

reformulei a proposta: vou realizar algumas atividades corriqueiras com os olhos bem fechados, já que a proposta é sentir diferente e não vivenciar o cotidiano de um deficiente visual.

assim

no segundo dia:
eu me sentei na calçada da casa da minha vó e fumei com os olhos fechados apenas ouvido os sons da cidade. eu percebi dois cantos de pássaros diferente (geralmente não percebo nenhum); ouvi o som do vento, quero dizer, das folhas das árvores balançadas pelo vento (geralmente só me atenho a isso em caso de vendavais); ouvi o freio de um carro fazendo um sonzinho que acontece quando ele está com defeito, um sorveteiro buzinando lááá lonnnnge (na minha cidade existem sorveteiros que empurram seus carrinhos enquanto buzinam para chamar as pessoas, adoro isso nesse lugar) e constatei que o filtro do cigarro tem mesmo um gosto horrível.


tem tantas coisas pra gente ouvir e sentir. intensamente.




2 comentários:

Suspenso disse...

Quase chorei lendo o relato do segundo dia. Logo você vai começar a entender por que amo tanto Itapira... Talvez eu veja com meus olhos de estrangeira o que seus olhos já não reparam mais quando abertos. Quando abertos, repare.
Amo-te.
Pipa

viajante disse...

te sinto e nao te vejo.
minha vida sempre foi uma abstração de todas as minhas realidades.
o que vejo não sou eu. prefiro sentir mesmo que de olhos bem abertos.

 
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