A preguiça é a máxima das liberdades. Ser livre não é apenas poder decidir entre A, B ou C, como por vezes se pensa; é ainda poder não decidir. Decidir é recusar umas hipóteses e escolher outras; é perder sempre. Por cada opção agarrada, milhares de outras se perdem. Daí que a preguiça signifique, de certa maneira, o regresso a um estado infantil em que tudo era sempre possível porque ainda nada se havia recusado. Que fizeste tu nestes dias de Agosto? "Fiz a minha tranquilidade", eis uma resposta possível. E que trabalho dá fazer tal coisa tão pouco visível. Em suma, há a preguiça e há ainda muitos trabalhos. E se nos for dado a escolher um, porque não aquele de que falava a cantora Laurie Anderson: "os teus olhos. É um dia inteiro de trabalho olhar para eles".
(Gonçalo M. Tavares)
obs: esse texto foi publicado na revista Gingko (http://www.gingko.pt/) e eu o li em 'la double vie de veronique' (http://ladoubleviedeveronique.blogspot.com/)
Um comentário:
ah! que belo texto. e viva nosso direito à preguiça!
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