sexta-feira, 20 de julho de 2012

da memória



ela estava pintando as unhas e começamos a falar sobre cores de esmaltes que se apagam em alguns tipos de pele. logo, começamos a falar sobre pele. e sobre a brancura do inverno impressa nos corpos nessa época do ano. eu não falo mal do inverno. nunca falei, nunca vou falar. mas concordei com ela que no tempo do sol as pessoas ficam mesmo com um ar mais saudável. uma cara de saúde.

perguntei se ela tomava sol. ela me disse que não mais. 'mas já tomei muito na vida. fritava mesmo.' eu também."e faz um mal, né?". porra!... com o tempo é que a gente se dá conta. surgem essas pintas suspeitas e essas manchas esquisitas... "e não adianta nada se esconder agora, né? essas manchas parece que surgem do nada!" parece sim. mas tem a memória da pele, né? "é".

e não tem jeito, pensei, enquanto ela, minuciosamente, limpava as cantinhos das cutículas, se esforçando contra todas as leis para apagar qualquer pigmento de tinta que tentasse, quisesse, ousasse permanecer colado na pele.

o que acontece é que não tem jeito, não. não, não tem.

algumas coisas ficam guardadas, se armazenam. até se amontoam no tempo. e, num dia, até num daqueles bem azuis, inesperadamente, como que de repente (como se inesperadamente fosse mesmo de repente - a vida existe, muito, no inacessível a nossos pequenos olhos de vidro),  num ponto insuspeito elas emergem, ainda vivas (porque nunca mortas, apenas, silentes) tingindo toda a nossa superfície retocada de cartão postal.

tem a memória. sempre tem a memória. mesmo querendo fingir que não, saindo correndo pro não, pintando na cara esse não, tem a memória. sempre tem a memória.

brilho eterno sem lembranças, nem no cinema.





2 comentários:

Anônimo disse...

um relato a la log lady! com ele eu abriria uma história! bisou!

adorei falar com você ontem. eu não comentei, mas, enquanto conversávamos, eu estava na confeitaria da esquina saboreando um bolo. um momento dale cooper!

Angela disse...

Quanto tempo e saudade de umas palavrinhas suas que sempre se arrumam de forma nova, especial.
É sim, a memória, que até quando falta é presente, em todos os sentidos!

Um beijo!

 
Free counter and web stats